• Motim da Cadeia: há dados novos

    Motim na Cadeia de S. Martinho    III Episódio

     

    Não há segredo que nos ultrapassa. Não obstante as medidas de segurança, na Cadeia de S. Martinho, conseguimos abordar um preso que nos conta a tragédia do dia do Natal, que poderia ser evitada, caso Carlos Graça considerasse os pedidos dos guardas

     

    Preso conta versão da história

     

    Mesmo com toda a segurança que a Cadeia de S. Martinho é alvo, principalmente nestes dias, depois do motim, foi-nos possível chegar à conversa com um preso, cuja identidade reservamos, evitando que ele sofra mais perseguições. Uma entrevista possível apenas à Rádio Nova e Expresso das Ilhas.

    Os factos são contados na primeira pessoa, e devido à sua importância, transcrevemos parte da conversa com o prisioneiro, que, no dia da rebelião, encontrava-se no segredo, a “curtir” o cheiro nauseabundo das fossas.

    A nossa fonte começa por explicar-nos que, no dia do Natal alguns guardas prisionais, apercebendo-se da confusão solicitaram ao director da Cadeia, Carlos Graça, que reconsiderasse a sua decisão. Este não deu ouvidos aos seus subordinados e o pior aconteceu.

    “Ele (Carlos Graça) fechou a porta dos presos condenados e zangados, estes arrombaram uma das portas do pátio de visita e invadiram. Chegaram dois guardas: um é Zé Capoeira o outro é Avelino. Um veio com o seu macarov a disparar e o outro com AKM, chegou junto dos visitantes e disparou várias vezes, tendo uma bala acertado um jovem, outra atingiu um preso no pé, tendo perdido a perna esquerda.

    No dia do Natal éramos muitos na cela segredo. O cheiro da fossa nos matava. Lá mesmo fazemos as nossas refeições, e num buraco, fazemos as nossas necessidades fisiológicas e falta água para deitar no buraco. Lá dentro não tem água. Existe uma lâmpada, na rua, e não chega para nos alumiar aqui na cela. Aqui na cela segredo está carregado e sem espaço para meter mais gente. Tem aqui muitos dos meus colegas que estão algemados e não fizeram nada. Por tudo e por nada somos algemados.

    Muitos presos estão deitados na cama, e não podem sequer levantar-se. Levaram pancada na cabeça: levaram coronhadas e pauladas sem fazer nada. Muitos condenados estão doentes e nem podem levantar-se. Tem aqui um que perdeu pé, outro tem bala próximo do joelho, outro, o Diamantino, tem ferimentos no pé, nem esteve seis dias internado, já o trouxeram de volta: ele não consegue andar e nem sequer deram-lhe uma muleta para se locomover.

    Zifa não fez nada. Bateram-no e quase o mataram. Neste momento ele está no segredo, está muito doente e não pode falar com ninguém e nem tem direito a visita. Naquele dia estávamos no segredo e ouvimos tiros. Ouvimos fortes rajadas, tendo atingido um guarda mas ele já está bem. Logo, alguns presos gritaram. Já mataram, mataram três! De seguida pedimos para tirar-nos da cela e, quando saímos, havia muito sangue no chão. Quando a televisão chegou, tinham acabado de limpar o chão. A polícia de choque bateu

    em todos. Deitaram</personname> gás e foi aquela tortura. Deitavam-nos água, batiam e já nem podíamos gritar. Depois pisaram-nos e continuam a nos bater”, conta a nossa fonte, sempre em maior sigilo.

    Entretanto, esta história vem confirmar relatos que já tínhamos avançados, sobre o número de feridos e o estado de saúde de muitos dos enclausurados. Todavia, este relato é apenas uma versão das muitas que gostaríamos de poder ouvir para poder informar.

    De nada adianta a “fita” das autoridades em dizer que tudo está bem, porque, na verdade, não está.

     

    Roubos/visitas

     

    Na edição anterior dávamos conta que alguns objectos pessoais dos presos foram tomados e destruídos. Acabamos de poder confirmar esse dado. Esta nossa fonte acrescenta que alguns aparelhos, como DVD, TV, rádios e aparelhagens foram quebrados durante o motim do dia <metricconverter w:st="on" productid="25. A">25. A</metricconverter> alguns presos foram-lhes retirados os seus relógios de pulso, fios e outros pertences.

    Afinal, as visitas não estão a acontecer. Pelos menos existem presos que estão em segredo, “sem contacto, sequer, com a luz do sol”, revela. Confirma-se que as correntes eléctricas foram cortadas das tomadas, para isolar os presos e impedí-los de sintonizar o que de notícia se passa do lado de fora, na sociedade.

    No dia do Natal, os presos tiveram direito apenas ao pequeno-almoço. A rebelião não permitiu que lhes fossem servido o almoço e o jantar. Na segunda-feira, 26, logo pela manhã, o dia começou ensombrado, pelos acontecimentos do domingo.

    A alguns presos que tinham direito à refeição de suas casas, foi-lhes cortado esta benesse. Banho, é só de três em três dias. Está também proibida a entrada de vestuários para alguns presos e a Polícia de Intervenção continua a vigiar a Cadeia.


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